Coisa estranha é voar

Coisa estranha é voar

Parece que fico um pouco em cada lugar.

Em cada canto que descanso deixo uma mensagem.

Fica ali – Imortalizado – o rastro da minha passagem.

Fica o meu alívio!

Olho pra trás, onde pousei...

Vejo a vida que um dia sonhei...

Mas sei que estou em eterna partida,

Então, voo chorando por nunca poder ficar;

Por ter sempre que abandonar o novo caminho;

Por ter, guardada no peito, a sensação de alegria.

Melhor seria nunca ter parado...

Ter meu voo, continuado.

Talvez não sentisse toda essa dor...

Talvez não tivesse em meu rosto o rancor...

Quem sabe não tivesse me machucado...

Ah flor! Sinto culpa por tê-la conhecido;

Por te me distraído com tua graça.

Agora, cruzo o céu em farsa,

Transmitindo aos outros uma falsa beleza.

Mal sabem eles o que sinto.

Penso às vezes que minto

Ou escondo largamente o que penso;

Mas penso...

Infinitamente eu penso!

Talvez seja essa a minha jornada:

Seguir enganando.

Estampando, através do meu choro, alguns sorrisos.

Ao menos nisso sou belo.

Ah... Talvez seja essa minha jornada...

Cruzo o céu em tristeza

E, na falsa beleza, vou me enganando;

Buscando, também, me auto-enganar.

Mas sei – e é tão dolorosa a lembrança – do que antes era o Voar.

Então, me deixo aqui num findar...

Bato as asas, cruzo este ar

E voo...

E Voo...

E voo.

São Paulo, 20 de dezembro de 2010