Um solitário nômade no moinho.

Já não há mais motivos para querer ficar, querer voltar, querer estar.

As distâncias são grandes, muito grandes. E as viagens são muito longas e cansativas.

Não pensar o por quê de querer ficar é quase como ignorar o percurso do tempo, que ele insiste em jogar na cara, dando tapas que doem. E que esses sim, permanecem.

Não adianta olhar para o retrovisor e ver uma bela cidade iluminada, querer ficar, e seguir em frente.

Devorar livros para esquecer o presente, se jogar no trabalho que antes satisfazia e hoje em nada ajuda a rotina para desviar o trajeto maldoso que a mente insiste em procurar.

Comer tudo o que der vontade, lutando contra o funcionamento daqueles órgãos já escaldados pelo excesso.

Fugir. Daquela casa, daquela cidade, daquele estado, daquele país.

Olhar o gordo contra-cheque e não conseguir imaginar um sequer motivo para sorrir.

E aquelas velas numeradas em cima do bolo sentenciando o tempo de morte.

Fracassar sem entender. Se esforçar e perder. Traduzir a bíblia do latim para o francês, para que a saudade não sufoque, para que o coração não congele dentro da fogueira.

Depois de tanto vazio, só resta vazio. Mesmo que os dias passem e a estopa seja grossa, o vazio continuará lá, determinando para sempre a existência destes dias cruéis.

Procura-se um esboço de sorriso no espelho, mas é o travesseiro quem limpa as lágrimas recorrentes.

Solidão e medo na sempre companheira mala pequena.

De tudo, apenas dois trunfos. Dois companheiros.

Então ama, bebe e cala.

Vai, pára na esquina, passagem na mão, olhos na cidade. Acende seu cigarro de palha.

E anda.

Bárbara Langsch
Enviado por Bárbara Langsch em 26/12/2010
Código do texto: T2692487
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