Dor de instantes? Programação de toda a vida?
Sabe-se quando não há um espelho
Desses que agente se mira desde pequeno
Para imaginar-se gente grande e belo.
Mesmo sem tantas provações passei a creditar
A deixar que o desalento maternal me dissesse
A razão pelo qual não se deve entender
Chegar pelos calores mais frios e chorar
Quis tanto entender! Ah meu Deus como quis,
Todos as lágrimas salgadas que desejava
Só me eram acessíveis para beneficiar-me de luz
Para não deixar nunca que os pensamentos reais
Endurecessem todo sentimento de vida
Afinal as vísceras eram aquele instinto que limitava
E por vezes negociava com a própria racionalidade.
Mas o tempo ia marcando o compasso certo
A minha vontade de bradar, ia virando alguma dor escondida;
A minha vontade de abraçar o colo macio ia virando remorsos de não compreender
Limitava-me a aceitar.
A silenciar-me.
Ó não! A calar-me secreta e simples.
Nunca, nunca havia a saída dos costumes domésticos,
Das contrações dos músculos fracos
Chorava feito criança, porque tinha pena.
Contida achando-me merecedora de algum Deus,
Sobrevivia esperando o dia em que poderia pronunciar
Com clareza as profundezas que iam se apoderando do lado esquerdo do peito.
E essa era a pior sentença que já sabia.
A de esperar sempre os mesmo atos desconsolados.
A de se limitar por caminhos dolorosos.
Num movimento do útero, de dentro das entranhas tinha sido nascida,
Mas nunca havia ali me encontrado.
Agradecia, e padecia.
Chorava, porque sabia.
Que dali por diante se culparia.
De quem é a culpa?
Exclusivamente minha: Assim era a sentença que tinha para continuar a vida.