Dor de instantes? Programação de toda a vida?

Sabe-se quando não há um espelho

Desses que agente se mira desde pequeno

Para imaginar-se gente grande e belo.

Mesmo sem tantas provações passei a creditar

A deixar que o desalento maternal me dissesse

A razão pelo qual não se deve entender

Chegar pelos calores mais frios e chorar

Quis tanto entender! Ah meu Deus como quis,

Todos as lágrimas salgadas que desejava

Só me eram acessíveis para beneficiar-me de luz

Para não deixar nunca que os pensamentos reais

Endurecessem todo sentimento de vida

Afinal as vísceras eram aquele instinto que limitava

E por vezes negociava com a própria racionalidade.

Mas o tempo ia marcando o compasso certo

A minha vontade de bradar, ia virando alguma dor escondida;

A minha vontade de abraçar o colo macio ia virando remorsos de não compreender

Limitava-me a aceitar.

A silenciar-me.

Ó não! A calar-me secreta e simples.

Nunca, nunca havia a saída dos costumes domésticos,

Das contrações dos músculos fracos

Chorava feito criança, porque tinha pena.

Contida achando-me merecedora de algum Deus,

Sobrevivia esperando o dia em que poderia pronunciar

Com clareza as profundezas que iam se apoderando do lado esquerdo do peito.

E essa era a pior sentença que já sabia.

A de esperar sempre os mesmo atos desconsolados.

A de se limitar por caminhos dolorosos.

Num movimento do útero, de dentro das entranhas tinha sido nascida,

Mas nunca havia ali me encontrado.

Agradecia, e padecia.

Chorava, porque sabia.

Que dali por diante se culparia.

De quem é a culpa?

Exclusivamente minha: Assim era a sentença que tinha para continuar a vida.

Lady Sophia
Enviado por Lady Sophia em 18/10/2006
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