DAMA DA MADRUGADA
Branca, séria e calada,
Em vestido e hora expropriada
Em seus olhos os minutos da espera
Tão severa,
Meu poetizar triste fitou
Teu coração louco e ilustre
É possível saber que amou
Mesmo que não se mostre
Usas (com mais veracidade
Aos lutos e enterros da cidade
Que enchem as esquinas de incenso )
O clamor do teu silêncio.
Suas jóias antigas refletem, menos
Do que foi seu passado de extremos
Dos bailes, das festas em branco e preto
Que vive na lembrança do teu segredo
Alguns te olham com mistério
Outros com esmero
Olham-te com olhar da espera
Mais tua boca nada revela
Tuas meias-calça rasgadas
Motivo de idéias debochadas
De transeuntes incomodados
Com os diferenciados
Tão “jovem” e desamparada
É tua vida nessa calçada
Os anos de ouro se foram,
Só seus olhos não esqueceram
Os bêbados te puxam pela mão
Mas rejeita tal companhia
Por outro bate teu coração
Não por esses “déspotas"
Musicas e redondilhas
Oferecem-te os bares
Chamam-te por suas filhas
Os velhos para abraçares
Ignora-os rispidamente
Com a fúria de um demente
Olhar temperante e repulsivo
Com sinais baixos e agressivos
Teu amor não pode ser dividido
Teu abraço é só de um individuo
Por ele tu lutas aqui
Sem saber se ele pode te ouvir
Às vezes canta, às vezes chora
Sem derramar uma lagrima
Sem emitir uma nota
É a tua lastima
Ferem-te os ruídos da ambulância
As garras que te arrancam a esperança
Do jantar que preparaste ao teu
Seu grito é ouvido: ”Romeu!”
Desvencilhar-se não é possível
É aplicado o sedativo
Todos olham aquela cena
Eu digo: “Deus restitua-lha a consciência!”
“Dama da madrugada”
Assim é conhecida a “Julieta” desesperada
Que aos sessenta espera por ele que já morreu...
Fugida de um sanatório, procurando por toda
parte, por seu amado Romeu.
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