Sorumbático

Navios negreiros buscavam,

Vidas para o sacrifício.

Chibatadas... Troncos armaram,

Do mal fizeram seu exercício.

Escravos como animais

Eram maltratados.

Os negros não esquecem jamais...

Tantos irmãos espancados.

Em nuvens horas se fundem,

Tantas palavras vazias.

Ó linguagem que confunde,

Não passam de ventanias.

Desordens amargas no pensar,

Liso campo paludoso.

Demente, arcaico a suspirar,

Morada, memória do impiedoso.

Ó território do mitismo,

Ausência plena e serena.

Pecados do cristianismo,

Malbaratado me envenena.

No conserto tudo é tarde,

Não há tempo de cura.

Ó consciência covarde,

É o mal que não abrandura.

Trata-me, mas é tarde,

Chegou a hora da partida.

Mas o fogo ainda arde,

Não há mais despedida.

Helmuth da Rocha
Enviado por Helmuth da Rocha em 21/11/2010
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