AUTO-FLAGELO
Não tem maior castigo
do que o meu próprio eu
que nunca se deu
do seu vil artigo.
O meu corpo, carcaça,
mero ambulante por aí
túmido, sem graça,
de mim mesmo menti.
Sou visão despedaçada,
sou aquilo, sem exercitar,
imagem adelgaçada,
para olhar e irritar.
Abutres me cercam,
pela hora da morte
sem rumo e sem norte,
assim me apertam.
Vejo negros corvos,
lúgubres grasnados
de pingas que sorvos
já todos encovados.
Neste vale de flagelos,
sem auto confiança
olhos fundos e amarelos
sem esperança.
O meu amor perdido,
já sinto o frio da morte
que mesmo preterido,
aduncado, meu passaporte.
Nada se salva
da minha esperança,
da luz da alva,
do sonho de criança.
Levado pela correnteza
como barquinho de papel
vai sumindo longe e cruel
distante vai da tua beleza.
(YEHORAM)