ELEGIA DE UM NÃO-PINTOR

Talvez eu fosse aquarela,

Mas sou apenas um tosco poeta.

Talvez estivesse em Guernica,

Mas testemunho --- todos os dias ---

Florescerem vítimas de banalizadas chacinas

No gigantesco tropical Paraíso do Pré-Sal

E das commodities agrícolas.

Talvez presenciasse

As pinceladas catárticas de Frida,

Mas meu ser se limita

A derramar copiosas lágrimas das vistas.

Talvez vivesse como um viçoso ébano

Que pisasse em sementes de café nos anos vinte ou quarenta

Do evo passado,

Mas me descubro um preto de pés pneumáticos

O qual --- no século XXI --- engendra

Versos natimortos na sua cabeça de asno.

Talvez pudesse dizer a Van Gogh

O quão cultuada e lucrativa

Tornou-se a sua Pintura Impressionista,

Mas somente consigo escrever

--- sobre a folha do caderno Tilibra ---

Letras de aparência carrancuda,

Abjeta: dantesca grafia!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

JESSÉ BARBOSA
Enviado por JESSÉ BARBOSA em 17/11/2010
Código do texto: T2620574
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