ANJO PIXAIM   -   (Anizio Pereira)


Ali, naquela favela

Do outro lado da sua vida

Onde pra viver não dá

Nasceu um menino lindo

Tão singelo, tão distinto

Bonito de admirar.

 

Visitaram o barraco

Os bandidos do pedaço

E a mundana e o travesti

Repetiu-se a ladainha

Do coro dos trombadinhas:

-”Ele vai nos dirigir”.

 

A pobre mãe, cansada e tonta

Sem almoço e sem a janta

Na dor do parto morreu

Nesse dia de favela

Acenderam muitas velas

Para a morte que viveu.

 

Já nasceu o Pixaim!

Vai crescer o Pixaim!

Ele veio pra roubar

Vai ser mau e tão ruim

Vai dar pau em qualquer um

Todos vão se assustar

 

E ele cresceu tão largado

Foi cuspido e rejeitado

E à noite ele dormia

Nos carros abandonados

Nos porões mal assombrados

Pesadelos noite e dia



Pra fome o que restava

O resto que se jogava

A "rapa" que não servia

Era sempre mau olhado

Por todo mundo evitado

Na inocência, não sabia


Que o empresário apressado

Era muito atarefado

Um minuto, um milhão

O pastor e a dona Fina

O juiz e a sua prima

Deputado e cidadão

 

Duros ossos do ofício

Tinham muitos compromissos

Cada qual uma razão

Pro menino na calçada

Faziam tantas ressalvas

Demonstrando aversão

 

 

-”Esse aí é o Pixaim,

Já cresceu o Pixaim,

Ele veio é pra roubar,

Ele é mau e tão ruim,

E dá pau em qualquer um,

Pode vir até a matar”

 

A polícia foi chamada

As pessoas assustadas

E o menino então correu

De repente choveu chumbo

O garoto moribundo

Foi ao chão e ali morreu

 

Sem prece nem assistente

Sepultaram o indigente

Pra que o povo adormecesse

Remorso ninguém sentia

Pois todo mundo queria

Que aquele infeliz morresse

 

Lá se foi o Pixaim!

Já morreu o Pixaim!

O que veio pra roubar

Não roubou e nem matou

Não feriu nem machucou

E morreu de desamor.


                                                Autor: ANIZIO PEREIRA