Ali, naquela favela
Do outro lado da sua vida
Onde pra viver não dá
Nasceu um menino lindo
Tão singelo, tão distinto
Bonito de admirar.
Visitaram o barraco
Os bandidos do pedaço
E a mundana e o travesti
Repetiu-se a ladainha
Do coro dos trombadinhas:
-”Ele vai nos dirigir”.
A pobre mãe, cansada e tonta
Sem almoço e sem a janta
Na dor do parto morreu
Nesse dia de favela
Acenderam muitas velas
Para a morte que viveu.
Já nasceu o Pixaim!
Vai crescer o Pixaim!
Ele veio pra roubar
Vai ser mau e tão ruim
Vai dar pau em qualquer um
Todos vão se assustar
E ele cresceu tão largado
Foi cuspido e rejeitado
E à noite ele dormia
Nos carros abandonados
Nos porões mal assombrados
Pesadelos noite e dia
Pra fome o que restava
O resto que se jogava
A "rapa" que não servia
Era sempre mau olhado
Por todo mundo evitado
Na inocência, não sabia
Que o empresário apressado
Era muito atarefado
Um minuto, um milhão
O pastor e a dona Fina
O juiz e a sua prima
Deputado e cidadão
Duros ossos do ofício
Tinham muitos compromissos
Cada qual uma razão
Pro menino na calçada
Faziam tantas ressalvas
Demonstrando aversão
-”Esse aí é o Pixaim,
Já cresceu o Pixaim,
Ele veio é pra roubar,
Ele é mau e tão ruim,
E dá pau em qualquer um,
Pode vir até a matar”
A polícia foi chamada
As pessoas assustadas
E o menino então correu
De repente choveu chumbo
O garoto moribundo
Foi ao chão e ali morreu
Sem prece nem assistente
Sepultaram o indigente
Pra que o povo adormecesse
Remorso ninguém sentia
Pois todo mundo queria
Que aquele infeliz morresse
Lá se foi o Pixaim!
Já morreu o Pixaim!
O que veio pra roubar
Não roubou e nem matou
Não feriu nem machucou
E morreu de desamor.
Autor: ANIZIO PEREIRA