TUDO MUDOU

Depois de muito tempo revi,
O lugar onde passei,
A minha mocidade,
Me surpreendi,
Com o que ali encontrei,
Nada sobrou daquela,
Bucólica poesia,
Do outro eu que residia,
Em um singelo barracão,
E da pequena janela,
Lançava sonhos na imensidão,
Procurei pelas redondezas,
E não vi a beleza,
Das flores silvestres,
O azul celeste,
Entre a velha paineira,
Fiel companheira,
Das minhas confidências,
Não vi mais a inocência,
Dos tempos idos,
Os semblantes inibidos,
Imprecisos comportamentos,
Dos meninos de pés no chão,
A harmonia divina,
Das meninas,
Em seus vestidos de chita,
Cabelos ao vento,
Contentamento,
Com as cantigas tão bonitas,
Lúdicas brincadeiras,
Sob a luz plena do luar,
Esconde, esconde, rouba bandeira,
Correria na campina,
Que mais parecia,
Um belo tapete verde,
Como me entristeci,
Ao correr o meu olhar,
No horizonte,
Enfumaçado, cinzento,
E me deparar com a fonte,
Que era cristalina,
Onde saciei minha sede,
Agora goteja, suplica vida,
Mas, sabe que vai morrer,
Esquecida, envolvida,
Pelo progresso,
Ah lugar! Dos meus primeiros versos,
Pedaço de minha infância,
Com que deselegância,
Te trataram,
Embruteceram seu universo,
E me fizeram,
Chorar...