amor fatal
É impossível
O horizonte bem ali
Infinitamente belo e reticente
E o vento a sussurrar recordações
É impossível
Trair as memórias
Apagar os flashes intensos de imagens
Queimadas na retina sob o sol imenso
É impossível conspirar contra a realidade
Apagar-lhe os vestígios
Encobrir pegadas, calar palavras expressas no cerro
É impossível
Transcender e não ficar um pouco de nós em cada lugar
Um pouco de nós em cada vento...
Em cada sílaba delicadamente pronunciada...
A caçar ouvintes,
A sofregamente desejar ser entendido...
Quem será entendido de fato, de nossas razões intestinas?
Quem ousará transpor o próprio personagem e entrar na pele alheia...
Entrar pela dor alheia
E sofrer por não ter identidade e vagar sobre hipóteses
Como se fossem verdades...
Quem ousará deixar de ser si mesmo, para entrar na terra misteriosa do outro?...
Das razões desarrazoadas...
Nos desatinos do destino...
Da palavra maldita e do gesto insano.
Matou por amor.
O amor matou num gesto desesperado
Como se buscasse a última tábua de salvação...
Quem ousará...
Os profetas? Os sacerdotes?
Os santos?
Não.
Talvez, só os poetas...
Que conhecem a dor pelo revés...
E lapidam-na como se fosse um diamante.
Trazendo o brilho que cega
e faz ver o que há dentro das coisas.
É um amor fatal.