Se visses a dor dessa tarde
A cheirar incenso e cair
E partir para um anoitecer que fere
A machucar de uma melodia de outrora
Como que feita por anjos, não pro agora
Se visses os desenhos sobre a mesa
E eu fugindo por essas cores inúteis
De angústias que me apertam
E desacertam os traços e os versos
Se visses as lágrimas incontidas
As descabidas vontade de acabar
De rasgar desenhos e calar versos
Deitar tudo num fogo purificador
Ah! Se visses quão pequeno me torno
Em torno de grandezas insustentáveis
E quão ínfimo qualquer desejo de ser
Um qualquer, coisa qualquer em torno
De qualquer coisa que não mais este sonho
Em torno de escombros do que não sei
Se meu ou de quem ou para que talvez
Que se refaça como coisa que se refaz
Se me visses sufocar de tantas lembranças
E me atirar nesses vãos esquecimentos
Os meus abismos feitos de esperanças
Se ao menos olhasses, se me visses
Meu olhar tão perdido num sem tempo
E a tempo de algo finito em teu olhar
Que me visse ou olhasse e eu saberia
O que trazes ou não no coração
Nas profundezas imensas deste silêncio
Em que eu sepulto agora qualquer razão
Qualquer emoção de continuar sendo...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 24/10/2010
Reeditado em 30/07/2021
Código do texto: T2576370
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