A GOTA DE CHUVA E O ESCRAVO

A GOTA DE CHUVA E O ESCRAVO

Ela servia todos

Morria todos os dias

E nascia

Para voltar a servir

Mas era livre

Ele servia

Morria um pouco todos os dias

Para voltar a servir

E nunca na vida

O viram

Ou ouviram a sorrir

Ela era o mais livre dos seres

Nascia na atmosfera

E vinha

Cá abaixo

Para a terra

Lamber a natureza

E dar-lhe vida

Para depois

Tão depressa como surgiu

Partir

Ele era o mais condenado

De todos os prisioneiros

Servia a eito

Ano inteiro

Noites a fio

E tentar ver a beleza da gota

O seu

Maior desafio

Ela era pequena

Como as coisas pequenas de tudo

Que podemos

Não dar por elas

Sem elas

Não podemos ver

Ele era

Quem ajudava

A sociedade

A Ser

Mas para todos era invisível

E a todos era incógnito

O seu invisível sofrer

Até que houve um dia

Em que ele

Morreu

E nem

Um simples

Caixão

Mereceu

Foi deixado

Numa vala

Enquanto chovia

Enquanto

Pequenas gotas de água

Lambiam

O seu corpo de nada

Mas essa

Foi a única altura

Em que ele

Foi realmente livre

A sua alma

Foi levada

Pela gota

Para o céu

Dos homens nobres

E também

De onde ela veio

Ambos são felizes

Ela morrendo

Todos os dias

Ele vivendo para sempre

Felizes

Como só o sabem ser

Os seres diferentes

A gota de chuva e o escravo