“Dois Mundos, Duas Vidas”
"Estou chorando
Pois eu moro numa rua abandonada
Falta luz, falta saúde, água encanada
Moro longe, mora na periferia
Estou sofrendo
Pra meus filhos é negada educação
Sou a sobra da sobra da população
Esquecido eu vivo sem ter alegria
Estou sorrindo
Pois eu moro numa praça bem cuidada
Tenho luz, água, saúde, não falta nada
Ganho bem, por isso eu sou tão feliz
Estou gozando
De uma vida abastada, luxuosa
Tenho carros, uma casa ostentosa
Eu sou rico, sou “querido” em meu país
Dois mundos, duas vidas
Contradições tomam conta da cidade
Carências e farturas
É a síntese da atual sociedade
Estou querendo
Simplesmente um pouco de dignidade
Ter um pouco do que tem nessa cidade
Não preciso de fartura, de riqueza
Estou lutando
Pra alcançar aquilo que tenho direito
Não é justo ser privado e nada é feito
Eu só quero amenizar minha pobreza
Estou vivendo
Minha vida sem lembrar que ainda existe
Tanta gente na sarjeta e tão triste
Não me importo, estou alheio, eu não ligo
Estou bebendo
Comemoro cada dia essa vitória
Nessa vida tão feliz, cheia de glória
Que me importa é estar bem aqui comigo
Dois mundos, duas vidas
É tão difícil imaginar que um dia mude
Promessas e esperanças
Só resta agora esperar que Deus ajude"
Renato Brial
20.10.2010