Mãe

Minha mãe à treva entra em mim como o sol da manhã

E eu caio prostrado na ângustia...

Manda-me teu olhar de cuidado e zela meu corpo

Que ainda tenho medo do escuro...

Mãezinha, mãezinha... A vida são as lágrimas de Deus?

Por que ela chora tanto?

Sinto minh'alma afogar-se na tortura do espírito

E meus olhos embrandecer as paisagens com um olhar turvo de águas.

Cadê o tempo em que as flores eram o amor dado

Na forma do desabrochar de um sentimento vasto de inocência?

Me ensina aqueles caminhos do passado

Porque ando só como a imagem do cristo no altar.

Da-me irmãos que nada tenho se não meu sangue

Manda chamar o avô já morto que ele é bom entendedor da vida

E me canta aquele riso de encanto das cântigas infântis que tanto fazia-me dormir.

Me traz a primeira namorada que com ela quero recordar mimos ingênuos

De uma inocência quase decadente

E traga-me também minha primeira cachorrinha que ela sabia ser boa companheira (Bianca nome que se ama)

Me faça também uma romaria, uma procissão e extrema-unção e me cubra com um sudário de poesias.

Colha todo o sentimento da primavera e derrame-os ao nosso jardim

Para que eu tenha a paz dos beija-flores

E quando eu ficar tão triste e só como os mendigos

Socorra-me até o mar para eu respirar a madrugada em que nasci

Porque a treva entra em mim como o sol da manhã

E o que mais me assombra a vida

É a luz que eu não consigo compreender...

Gabriel Alcaia
Enviado por Gabriel Alcaia em 20/10/2010
Código do texto: T2567220
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