Mãe
Minha mãe à treva entra em mim como o sol da manhã
E eu caio prostrado na ângustia...
Manda-me teu olhar de cuidado e zela meu corpo
Que ainda tenho medo do escuro...
Mãezinha, mãezinha... A vida são as lágrimas de Deus?
Por que ela chora tanto?
Sinto minh'alma afogar-se na tortura do espírito
E meus olhos embrandecer as paisagens com um olhar turvo de águas.
Cadê o tempo em que as flores eram o amor dado
Na forma do desabrochar de um sentimento vasto de inocência?
Me ensina aqueles caminhos do passado
Porque ando só como a imagem do cristo no altar.
Da-me irmãos que nada tenho se não meu sangue
Manda chamar o avô já morto que ele é bom entendedor da vida
E me canta aquele riso de encanto das cântigas infântis que tanto fazia-me dormir.
Me traz a primeira namorada que com ela quero recordar mimos ingênuos
De uma inocência quase decadente
E traga-me também minha primeira cachorrinha que ela sabia ser boa companheira (Bianca nome que se ama)
Me faça também uma romaria, uma procissão e extrema-unção e me cubra com um sudário de poesias.
Colha todo o sentimento da primavera e derrame-os ao nosso jardim
Para que eu tenha a paz dos beija-flores
E quando eu ficar tão triste e só como os mendigos
Socorra-me até o mar para eu respirar a madrugada em que nasci
Porque a treva entra em mim como o sol da manhã
E o que mais me assombra a vida
É a luz que eu não consigo compreender...