" SINTOMAS DE MIM "
O que se faz quando o coração chora?
E o vento uiva longo e triste
A alma quieta, calada, resiste
Mas será? Virá? Demora?
A vida passa, e a tristeza fica, persiste.
E a alma pulsa e reclama
Pede, suspira, inflama
E o corpo inerte, tateia em vão
Vê, percebe, xinga, aflora
Mas não adianta, vai ao chão
E os olhos tristes molhados
Mal acabados, não acham senão dor
Porque sabem, educados
Vivos, desesperados
Que será amargo o sabor
E as mãos transpiram loucas
Buscam pena, roem roupa
Fecham, abrem, tremem
Espalmam, descontentes
Mas não conseguem, não mentem
E as pernas não respondem
Sem destino, vão e vem
Joelhos trêmulos, pés cansados
Os passos, amarrados
Estão todos mudos também
E a cabeça, tonteia, meio nula
Não permite senão calar
Não sente, não mente, não chama
Fecha a boca, busca a cama
Em coma, puxa o ar
É tristeza, decepção, perda
Em ver “aquele” ser amado ir
Sabe o corpo, a alma e a tenda
Que a dor será agora a emenda
Da vida, antes de possuir
Quisera que não fosse desse jeito
Mas respiro a esperança, a coloco no peito
Pois “aquele” estará para sempre em mim
Porque pulso, vivo, e amo
Sem medo, até o fim!