MARTÍRIO
Horas mórbidas, meu desalento,
Envolvem-me feito gélido vento,
Roubando-me as constelações,
Manifestando-me avultações.
Obscuro vazio, insondável à celeste luz,
Cobre minha face, feito negro capuz.
Instiga pavor, congelando o sangue das veias,
Arrepia o corpo por onde serpenteia.
Fujo de seu alcance, fecho as portas da ilusão,
Enrolo-me como novelo, labirinto de reflexão.
Espera, espreitando-me sobre o telhado, fúnebre canção,
Pálidos agouros desta funesta solidão.
Desespero faz o rio, tal qual águas do oceano,
Venosas ondas castigando rochedos,
Rubras, quentes, pulsando em desengano,
Revelando segredos, aflorando meus medos.
Sombras no deserto do tempo, por mim eternizado,
Em meu silêncio sepulcral, quase pareço normal,
Nos escombros dos dias polemizados,
Ocultam-se os martírios deste mundo real.