ZÉ É DA MORTE

José é morto! E nos tristes acordes da viola

Acorde, Zé! Ofícios, ladainhas, flores, campo

No velório, lágrima nos rostos o consola

No banco tosco, corpo inerte já sem pranto.

Sacrifício! Vida se conserte...amarga!

Que se concerte o triste som das benzedeiras

Vida mal vivida, agüentada, acorrentada

Alma nasce na pura aura das roseiras.

Simplório espírito, sofrer, chorar em preces

José se libertou da enxada, mãos inchadas

E seu vôo em soltos brasis, nordestes

Barriga vazia... vazio, vez, voz consolada.

Famigerada sorte que foi obrigado a ter

Enfim, o repouso na cova rasa, incerta

Zé vê o juazeiro e água corrente, ipês

Deixa pra trás sua semente: ele era um poeta

Pela primeira vez José se sente farto

No coração agora livre há esperança

E de sobejos e beijos enche seu prato

José se sente um homem... ou uma criança?

Esquece da fome, da sede, da seca, da desgraça

Vida combalida, sofrida, fabricada lida

Ri, baila, lábios da vida faz pirraça

Nu mundo, teve mais morte que própria vida.

No infinito ao lado de astros...estrelas

Zé já pode dormir e Deus seu sono vela

A vida viva o enganou, passou sem vê-la

Enfim, o descortinar, pintar de nova tela.

Triste terra ingrata que lhe negou o pão

Embaçou-lhe os olhos, abrolhos aos braços

Amargou seu pranto e secou seu coração

Tem agora seu corpo magro como pasto.

Vivianna di Castro
Enviado por Vivianna di Castro em 08/10/2010
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