ZÉ É DA MORTE
José é morto! E nos tristes acordes da viola
Acorde, Zé! Ofícios, ladainhas, flores, campo
No velório, lágrima nos rostos o consola
No banco tosco, corpo inerte já sem pranto.
Sacrifício! Vida se conserte...amarga!
Que se concerte o triste som das benzedeiras
Vida mal vivida, agüentada, acorrentada
Alma nasce na pura aura das roseiras.
Simplório espírito, sofrer, chorar em preces
José se libertou da enxada, mãos inchadas
E seu vôo em soltos brasis, nordestes
Barriga vazia... vazio, vez, voz consolada.
Famigerada sorte que foi obrigado a ter
Enfim, o repouso na cova rasa, incerta
Zé vê o juazeiro e água corrente, ipês
Deixa pra trás sua semente: ele era um poeta
Pela primeira vez José se sente farto
No coração agora livre há esperança
E de sobejos e beijos enche seu prato
José se sente um homem... ou uma criança?
Esquece da fome, da sede, da seca, da desgraça
Vida combalida, sofrida, fabricada lida
Ri, baila, lábios da vida faz pirraça
Nu mundo, teve mais morte que própria vida.
No infinito ao lado de astros...estrelas
Zé já pode dormir e Deus seu sono vela
A vida viva o enganou, passou sem vê-la
Enfim, o descortinar, pintar de nova tela.
Triste terra ingrata que lhe negou o pão
Embaçou-lhe os olhos, abrolhos aos braços
Amargou seu pranto e secou seu coração
Tem agora seu corpo magro como pasto.