Novo caminhar

Pois aqui tens também a minha vida

Ou o que ficou...

Sempre contrita, acanhada

Vida estranha, que se guarda com medo

A serviço das incertezas.

Para servir e honrar as lembranças

Para me redimir tardiamente

E pagar o preço do amor não dito

Ultrapassado, sem propriedades úteis

Como o suco de ontem

Por isso me encolho remoído e seco

Enrolado em profundo desgosto

Com as mãos trêmulas e vazias

Fitando o futuro com a vista turva

A vida que agora se apresenta

Expia-me, amedronta e desengana

Porque diante dela não sou agente

Não mais, e assim sigo indiferente

Hermético às soluções de quem é vida

Mas sigo com o tempo que pode ser

A cura que vem do outro

Escolho assim o meu próprio canto

Que tem um quê de desencanto

Baço, escorregadio à flor d’água

E olhando para os dias percebo as noites

e as manhãs. Meu canto vem das chuvas frias,

das enchentes, das valas negras, dos banhos nos rios...

Desses rebojos da minha infância, refluem o que desaprendi

recentemente e este gosto de fel

E chega sorridente nas asas da saudade

E me dilacera como aquela flor rejeitada

Que seca no solo duro

Como aquele lençol frio de flores belas

Que enfeitaram seu indesejado leito

Dirão: Os que ficaram não contam?

Não são razões para que lute e cure

o mal da alma?

Para que busque e seja agente da

sua própria cura ?

Para que ocupe lugar mais digno na vida?

Talvez neste momento não o possa dizer

Apenas sigo com um jeito novo de caminhar,

Menos convicto, e rumando também por novos

caminhos, que não são meus...

Pois não os escolhi