Retalhos de mim
Arranco para não sangrar
Dou vazão,
Deixo desaguar,
Rolar pedras,
Transbordar.
Assim rasgo a lembrança,
Retiro o que dói o que sobra,
Tudo que arde há de sarar.
Sovo até que fique brando,
Sorvo então o sumo são,
Agasalho em tumbas os velhos corvos,
Coso pequenos veios do que não foi solidão,
Rego com sal o que há de ser vida,
Remexo marcas, revolvo cascas,
Reativo para aguçar a ferida.
Ficou o pleno,
No mais, só um aceno...
Gavetas viradas
Invólucros abandonados,
Baús, sótãos,
Cadeados retirados,
Removo e esvazio memórias,
Descarto o sépia do olhar,
Restam agora indeléveis histórias,
O que não compete excluir,
Apagar.
Mata-borrão impresso em mim.