Depressão

Ela se mudou hoje.

A casa está vazia.

Só ficaram uma cama, dois colchões surrados,

um guarda-roupa velho, a tv, o dvd,

meus dvds que fizeram parte de minha diversão e alegria

quando assistíamos filmes juntos, coladinhos,

escutando nosso filho traquinando,

uma porção de lembranças e uma solidão dos infernos,

nenhuma foto,

nenhuma carta com juras de amor eterno...

Não quero falar sobre o assunto com ninguém.

Quero ficar sentindo... só isso.

Não quero que perguntem;

não quero ninguém no momento;

não quero pensar em ninguém...

Quero ser intenso também neste momento de dor.

Só quero o meu canto solitário e triste.

Deixe-me,

quero imaginar como seria... nem sei o quê!

Só quero imaginar que algum dia poderei ser feliz novamente,

que poderei desabrochar e mostrar meu velho e bom sorriso,

que posso dar a volta por cima,

mas o momento pede quietude absoluta.

No átimo estou com minhas lembranças tristes e áticas,

com pensamentos que querem sair

desembestados como tordilhos insandecidos

e com as mágoas que quererem sair como bestas desenfreadas,

mas para quê?

Este ciclo e efeito-bumerangue têm que se acabar!

Prendo-me, agarro-me, seguro-me...

Calado.

Nenhuma palavra de maldição,

apenas a dor.

Senão serei só mais um insano como muitos outros.

Melhor meu ermo sombrio,

meu cantinho pungente e fúnebre,

assim ninguém me me vê e me julga.

Imagino pastos verdejantes.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 26/09/2010
Reeditado em 02/10/2010
Código do texto: T2521946
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