Depressão
Ela se mudou hoje.
A casa está vazia.
Só ficaram uma cama, dois colchões surrados,
um guarda-roupa velho, a tv, o dvd,
meus dvds que fizeram parte de minha diversão e alegria
quando assistíamos filmes juntos, coladinhos,
escutando nosso filho traquinando,
uma porção de lembranças e uma solidão dos infernos,
nenhuma foto,
nenhuma carta com juras de amor eterno...
Não quero falar sobre o assunto com ninguém.
Quero ficar sentindo... só isso.
Não quero que perguntem;
não quero ninguém no momento;
não quero pensar em ninguém...
Quero ser intenso também neste momento de dor.
Só quero o meu canto solitário e triste.
Deixe-me,
quero imaginar como seria... nem sei o quê!
Só quero imaginar que algum dia poderei ser feliz novamente,
que poderei desabrochar e mostrar meu velho e bom sorriso,
que posso dar a volta por cima,
mas o momento pede quietude absoluta.
No átimo estou com minhas lembranças tristes e áticas,
com pensamentos que querem sair
desembestados como tordilhos insandecidos
e com as mágoas que quererem sair como bestas desenfreadas,
mas para quê?
Este ciclo e efeito-bumerangue têm que se acabar!
Prendo-me, agarro-me, seguro-me...
Calado.
Nenhuma palavra de maldição,
apenas a dor.
Senão serei só mais um insano como muitos outros.
Melhor meu ermo sombrio,
meu cantinho pungente e fúnebre,
assim ninguém me me vê e me julga.
Imagino pastos verdejantes.