Folhas de Outono

Mergulho na solidão que me é própria,
Abandono a realidade, e a mim mesmo.
Divago num vazio onde não conheço,
Não me suprem paisagens ou pessoas,
Mas o oculto de mim, a sombra exausta,
Meu próprio mito esgotado de deidade.
Asas esfacelas, busco um não ser,
Um inexistir que se finge de liberdade.
Nada tenho, nada sou, nada quero,
Antes anseio por não almejar a nada,
Livrar-me da vontade que aquece a alma.
Quem sabe assim não me assombre mais.
Assumo as rédeas da razão,
E depois deixo afrouxarem as cordas.
Viajo na trilha esquecida, esquecido,
Vertido em fragmentos de rala memória,
Cético o suficiente para desprezar o fel.
Nirvana niilista, livre do bem, livre do mal,
Que ambos se danem, que mereçam-se,
Por toda bondade que não consegui ser,
Pela vitória inglória dos hipócritas,
Por toda superficialidade da humanidade,
Não sejamos tolos de nos crermos íntegros,
Não resistiríamos ao próprio espelho,
Seríamos pó ante a força de alguma verdade.
E por que ser mais que isto,
Mero espasmo de efemeridade,
Querendo a ilusão da eternidade?
Para quê? Vence a utilidade,
O senso que nem é bom ou ruim,
Que nem mesmo é senso,
Senão inútil protesto contra nada,
Contra o tempo, contratempos,
Falsas unidades cheias de dualidades.
E então o silêncio, uma prece pelo vazio,
Um eco da própria voz, a ameaça da vida,
Pluma ao vento, movimento indiferente
Das medíocres criações,
Em solo de infértil imaginação,
Transcendendo em oração sem rimas,
Em rito sem religião,
Em alguém que um dia amou a liberdade.


16/06/2010


 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 19/09/2010
Reeditado em 07/03/2015
Código do texto: T2507706
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