Ventos uivantes

O ano iniciava num inverno de pinheiro,

Que pendiam em frios ventos uivantes,

Céu cinza de tempestuosas nuvens uivantes,

Grasnavam as aves negras de maus agouros,

Eram as cinzas das horas em pesares gigantes,

Nos horrores sangrentos das arenas de touros,

E queimavam-me os ventos frios uivantes,

Que sopravam das planícies distantes,

Onde pendiam gigantes pinheiros negros,

E grasnavam as negras aves dos montes,

E a aragem trazia também, remotas

Recordações, diluídas pelo tempo,

Eletrocutava-me raios do sofrimento,

Corriam em meu corpo de artérias mortas,

A alma se agitava com o som do vento,

Que a transportava ao doce lamento,

Em recordar os sorrisos de Dalva,

Onde brilhavam seus olhos triunfais,

Mas que hoje ganharam aureola celestiais,

Nessas paragens corria sua alma casta,

Brincava com um sorriso cheio de graça,

Que por aqui não brincam mais,

Nem amanhã brincará jamais.

Estendo os olhos ao inverno uivante,

Tentando encontrar visão mais amena,

E a alma sofrendo duras penas,

Ao saber que a visão é a mesma adiante,

E o tristonho som dos ventos que sopram,

Ressuscitam memórias que já morreram,

E que tornarei a esquecer... A esquecer,

(ah, os sonhos dos sonhos tornarei a esquecer!)

Tal o santo que traz pessoas que já morreram,

Vendo-as frustrado tornar a morrer.

Era pela manhã nas primeiras horas,

D’um inverno que mostrava o céu cinzento,

Cobria o horizonte como um reposteiro,

Onde negros pinheiros apontavam a aurora,

Onde negros pássaros grasnavam a aurora,

E os ventos uivantes gelavam-me inteiro,

Lembro-me deles há tempos nessa hora,

De quando criança despertando com tal uivo,

Perguntava: donde provém tal choro?

Respondiam-me: são espíritos em coro!

Diziam: são espíritos em coro!

E o coro dos espíritos retornava,

Com mais veemência com uma dor bem maior,

De um inferno não quente, mas, frio,

Que queimava no peito a lembrança,

De dias de solidão com menos esperanças,

Dias de tremer de febre pela manhã,

Fitando os olhos doentes de criança,

Na orla enevoada das vestes de satã,

Que surgia em meus delírios de criança,

Dos ventos que uivavam na lembrança.

Nada mais se apresentava no horizonte,

E o olhar triste para o chão pendia,

Agonizando meu triste coração sentia,

A dor que o espírito uivante sentia,

De infernos que queimavam em frio congelante,

Ao som que o vento uivante fazia,

E as memórias traidoras não saiam,

E a febre alucinadora me acometia,

As visões dos pinheiros que pendiam,

A visão dos negros pássaros que grasnavam,

Retorno ao leito donde estava deitado,

Para observar o frio inverno,

Aonde me veio o cortejo do inferno,

Onde pinheiros pendiam pra os lados

E aves negras sobrevoavam meu fado,

E a aurora trazia suas cinzas horas,

Ao meu coração que incessantemente chora,

Em lembrar o brilho fulgente da luz de Dalva,

Que vive agora em hostes celestiais,

E que por aqui não retornará jamais.

Adormecendo ouvindo os ventos uivantes,

O tom tenebroso dessa harmonia sonora,

É como o som de um demônio que chora,

E a tristeza afunda-me no inconsciente,

Âmbito que talvez eu jamais volte.

tomb

Tomb
Enviado por Tomb em 16/09/2010
Código do texto: T2501903
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