EM MEL, COMO EM FEL
Tenho doce
ainda
a mão,
de tanto afagar-te os lábios.
E ainda guardo nos olhos,
do amor que já fomos,
quimeras.
Da paixão vivida,
outras eras.
Do presente,
pungente,
imensa saudade sofrida.
Hoje não sei onde estamos.
Pergunto-me aonde e por onde vamos.
Se à procura de sossego,
se à reconquista,
febril,
desse amor sagaz,
que acolheu entregas de noites mil,
me alimentou do mel do teu peito
e nutriu cada instante fugaz,
entre pleito e paz
e paz e pleito,
por viagens infindas de amor anelantes.
Esse amor de outrora,
que hoje,
como antes,
memórias de inquietação adoça
impede que à paz de agora
opor-me eu possa,
e traz-me este travo a mel,
quando escrevo o que sinto
e a amargura do desfecho
que pressinto
se esvai em folhas brancas de papel,
onde verso meu verbo,
indiferente ao fel
que consome cada trecho.