EM MEL, COMO EM FEL

Tenho doce

ainda

a mão,

de tanto afagar-te os lábios.

E ainda guardo nos olhos,

do amor que já fomos,

quimeras.

Da paixão vivida,

outras eras.

Do presente,

pungente,

imensa saudade sofrida.

Hoje não sei onde estamos.

Pergunto-me aonde e por onde vamos.

Se à procura de sossego,

se à reconquista,

febril,

desse amor sagaz,

que acolheu entregas de noites mil,

me alimentou do mel do teu peito

e nutriu cada instante fugaz,

entre pleito e paz

e paz e pleito,

por viagens infindas de amor anelantes.

Esse amor de outrora,

que hoje,

como antes,

memórias de inquietação adoça

impede que à paz de agora

opor-me eu possa,

e traz-me este travo a mel,

quando escrevo o que sinto

e a amargura do desfecho

que pressinto

se esvai em folhas brancas de papel,

onde verso meu verbo,

indiferente ao fel

que consome cada trecho.

Jacinto Estrela
Enviado por Jacinto Estrela em 16/09/2010
Código do texto: T2500934
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