MEU FILHO NÃO VAI NASCER
Só Deus sabe, meu filho,
Você nunca saberá,
A dor que me tuma agora,
Depois de poucos dias,
Quando a ti fiz um poema,
sonhando que logo vinhas,
Que vinhas para mim,
Que serias meu amigo,
Mas sei agora que não virás,
Pois morrestes ainda no ventre.
Só Deus sabe, meu filho,
Você jamais saberia,
A dor que eu sinto agora,
Quando sei que não vais nascer,
Pois se nascer tu fosse
Eu não teria esta dor no coração,
Que me estrangula,
Qual bomba d'água,
Me puchando suspiros do peito,
Me arrancando lágrimas.
Foram quatro messes e meio,
Nesses dias sonhei que virias,
Que te teria em fim nos braços,
Que te apertaria junto ao peito,
Trocaria tuas fraldas
E te encheria do amor mais paterno,
Aquele que guardo há vinte e dois anos,
Que acumulo no coração para te dar,
Mas acho que vai explodir saturado,
Pois agora me causa tanta dor,
Pois morrestes no ventre,
Antes que eu pudesse te mostrar a luz.
Me sinto repreendido de Deus,
Como se me dissesse que não terei esse dom,
O de ter um filho ao menos,
Apenas um para ouvir minhas histórias,
Para quem contar lindos feitos,
Cada um com que pensei te homenagear,
Como quando fazia um jornal de humor,
Quando fazia uma história em quadrinhos,
Os dois livros que publiquei
E pensei que te orgulharias de mim,
Pois eles seriam tua herança.
Lamento, meu filho, por ter feito tanto,
Mas não ter a competência de te ter,
Pois sei que Deus sabe o que é melhor,
E, decerto, é melhor que seja assim.
Só Ele sabe o que nos aguarda,
Que caminhos cruzaremos,
Que dores suportaremos,
Então, pode estar amenizar o sofrer,
Impedindo dor maior,
Ou que se perca no caminho.
Não sei, meu filho, o que agora farei.
Decerto seguirei aceitando tua ausência.
Decerto vou me aquietar,
Pois o tempo que se passou sem te ter,
Esta tentativa tão logo roubada,
Decerto isto tudo é o aviso,
A certeza fatal de que filho,
É certo que não terei.
Wilson Amaral