Sinos da catedral
Eram noites das tempestades de setembro,
De chuvas fortes que o coração ouvia,
De ventos tristes que ao coração trazia,
Nostálgicas magoas, saudades?... Não lembro.
E ao longe os sinos da catedral se ouvia,
Em nevoas cinza que não cessava,
No peito o coração aguardava o colapso,
Na catedral a chuva negra que não cessava,
Sinos e coração n’um só compasso.
Toca-me na espinha um calafrio de sombras,
De um espírito vagante e solitário,
Encontrando refúgio nas penumbras,
Que se abrigam em meu peito de desvairo,
Dos olhos úmidos num coração de gelo,
Vejo a chuva inundar meu santuário,
Na voz muda em um grito de apelo,
Sinto a dor de um coração petrificado.
Por diversas vezes me encontrei perdido,
Lutando pra compreender a existência,
Apático, sem suportar mais a existência,
A cada sonho meu coração acorda perdido,
Dos labirintos tenebrosos da inconsciência,
Oh, lúgubre tenebrosa inconsciência!
Por que não me deixas sonhar despercebido?
E não viver mais tal experiência,
E não encarar mais a vida ressentido,
Sem amor sem ódio nem consciência.
E no quarto a chuva caía agora corrosiva,
Gotas de plutônio dissolvendo o tédio,
Nos telhados queimavam tais gotas do inferno,
Qual flagelo de Ares precisa e nociva,
Zunia nos ouvidos a marcha de Poseidon,
A flama explodia nos telhados, incisiva,
Horas do juízo final em gotas do Armagedon.
Abro os olhos e digo: - É triste a chuva,
Novamente, criando lodo na parede,
E limo na alma que padece reclusa,
Do seu escorregadio e repulsivo verde,
Envolto no coração que esmorece sem cura,
Em tristes sonhos que se contraem sem cura,
Do alto vêem-se as ruas n’um traçado rude,
Unindo a chuva as águas dos esgotos, imundas,
Afogando os ratos matando sua cede,
Escorrem pelas valas para as áreas imundas.
As gotas se repetem de forma eterna,
Como enxames de gafanhotos na plantação,
Arrasam como dias de tristeza no coração,
Amedrontam rasgando os céus com seu clarão,
É preciso encontrar amor de alma terna,
Estender a um desconhecido a mão,
A um estranho como você de outra terra,
Suplicando a ele dar as mãos,
Buscando encontrar a paz eterna,
Tentando se livrar da aflição eterna.
Olhando bem, digo: - É uma aventura infantil
Corramos na chuva sem receio algum,
Libertemo-nos do medo que não causa mal nenhum,
É chuva de alegria no qual nunca se viu,
São gotas de esperança que nos caem, um a um,
Veja como é de prata a cor que reluziu,
Caem por todos os lados..., aqui, ali, e mais um...
É paz que a chuva trouxe e o coração sentiu,
É luz de prata que brilha na cor de “lithium”,
Sigamos a chuva agradável que nunca se viu,
Tenhamos sua paz inocente de sonho infantil.
Tirava a camisa livrando-me do mau,
Livrando-me do medo para que não se agrave,
Do mau agouro para que o céu me ampare,
Corria depressa a toda velocidade,
Até deparar-me com os sinos da catedral,
A chuva escorrendo das paredes da catedral,
As gotas vermelhas do Cristo da catedral,
Clamo: - Por que pai não posso ir em frente?
E dos sinos ouvia: “Aguarde o tempo final!”
Os sinos dobravam: “Aguarde o tempo final!”
Retorno chorando as lágrimas da chuva,
As tempestades que o coração sentia,
Ao vento triste que o coração trazia,
Seguia as ruas e suas imundas curvas,
A catedral imersa na noite se perdia,
Os sinos dobram ainda de maneira confusa,
Distorcendo a mente deixando-a confusa,
Emirjo da chuva estranho ainda não me via,
Uma sombra vagando por entre ruas sujas,
Os passos acompanham os sinos da catedral,
As gotas corroem-me como as do juízo final,
Os telhados queimam como choro infernal,
E os sinos dobram: “Aguarde o tempo final!”
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