MARCAS DO SERTÃO

MARCAS DO SERTÃO

Paulo Gondim

04/09/2010

As velas se apagam

O canto triste dá lugar ao silêncio

Um a um, retiram-se calados

Na rede, o corpo inerte

Sentimentos sombrios, violados

Na perplexidade do momento

Um corpo que vai

Um sepultamento

No Sertão, não se estranha a morte

Já faz parte da rotina sinistra

Confunde-se com prêmio ou castigo

Convive-se, não se rejeita inimigo

No ressecar da terra moribunda

A vida tem pouco a exigir

Na paisagem fosca, hostil

O que torna mais cruel cada porfia

A coragem por si se desencanta

Na difícil tarefa de se viver um único dia

E entre espinhos e galhos retorcidos

No chão árido de tantos pedregulhos

Uma estrada qualquer corta o Sertão

E cruzes se repetem na triste visão

De cada margem, contando sua história

Quase sempre de desgraça em sua solidão

As velas apagadas agora se acendem

Nos braços de cada cruz abandonada

Perfiladas ao longo dessa estrada

Na luz, espantando assombração

Cada cruz no caminho ali fincada

É a marca da vida no Sertão

Paulo Gondim
Enviado por Paulo Gondim em 07/09/2010
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