ÁLVEO
Sinto n’alma o prenúncio
De um crepúsculo triste,
A dor atroz de uma solidão
Envolta em mágoas;
Quebram-se os ramos,
Secam-se as folhas,
E vão se as pétalas
Borbulhando nas águas.
Contrai-se meu peito
No álveo do rio
De águas barrentas;
E doido de dor,
Agarro-me as ervas
Que ainda restam,
Nas margens sangrentas.
Aos bramidos dos vales,
As serpentes enroscam,
Enrolando-me ao corpo
Agora exangue;
Tremem-se as veias,
E busco embalde
Tapar com as mãos
Donde jorra o sangue.
Mas já é tarde.
Foge a serpente que,
Aos bramidos dos vales,
Feriu-me em mágoas;
Contrai-se meu peito
No álveo do rio,
E agora já frio,
Desliza meu corpo
Boiando nas águas.