ÁLVEO

Sinto n’alma o prenúncio

De um crepúsculo triste,

A dor atroz de uma solidão

Envolta em mágoas;

Quebram-se os ramos,

Secam-se as folhas,

E vão se as pétalas

Borbulhando nas águas.

Contrai-se meu peito

No álveo do rio

De águas barrentas;

E doido de dor,

Agarro-me as ervas

Que ainda restam,

Nas margens sangrentas.

Aos bramidos dos vales,

As serpentes enroscam,

Enrolando-me ao corpo

Agora exangue;

Tremem-se as veias,

E busco embalde

Tapar com as mãos

Donde jorra o sangue.

Mas já é tarde.

Foge a serpente que,

Aos bramidos dos vales,

Feriu-me em mágoas;

Contrai-se meu peito

No álveo do rio,

E agora já frio,

Desliza meu corpo

Boiando nas águas.

Amarildo José de Porangaba
Enviado por Amarildo José de Porangaba em 05/09/2010
Reeditado em 19/11/2022
Código do texto: T2479823
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