Menino homem!
Pés descalços, roupas rasgadas
Cobertor de jornal
Lá vai aquele menino
Sem destino
E sem nunca ter cometido um mal
Seu café da manhã, seu alço ou sua janta
Eram restos que conseguia nas lixeiras do quintal
Ou nas portas em que batia
Sem vergonha,mas com lágrimas
Era assim que ele fazia.
Seu asseio era nas praças
Em seus chafarizes, nas madrugadas de noites frias
Sem sabão ou sem toalha
Se enxugava nas próprias roupas
Pois era isso que lhe sobrara.
Roupas suas ali mesmo ele lavava
Seus dentes, seus dedos escovava
O cabelo...pente não via
Mas seu olhar era tão puro
Seus gestos tão inocentes
Que por onde aquele menino passava
Comovia toda a gente.
Os bancos das praças transformou
Para seu corpo descansar
Em camas, mesmo duras
Sem conforto, sem mais nada
Aquele menino dormia
Para o seguinte dia andar.
Os anos foram passando
E aquele menino cresceu
E mesmo passando dos 50
Aquele menino de outrora
Acredita ainda que não nasceu
Seu olhar ainda é triste
Sua voz embargada
Mas o menino virou um homem
E ninguém lhe estende a mão
Nem se importam com sua história
Será que foi tudo em vão?