E O VENTO LEVOU...
E O VENTO LEVOU...
Eu espiava os rodopios do vento,
Em uma de suas curvaturas
Feito uma reverência maluca
Às plantas que rodeavam a sepultura
Varria e levava para longe
Lá em baixo do pequeno monte
Encontrei pedaços de letras douradas
Como almas que foram ceifadas
Elas vagavam perdidas pela calçada
As letras já estavam desgastadas
Tinham sido usadas na linda coroa
Cheia de flores agora despetaladas.
O vento gelava as pequenas descidas
Que cercavam os azulejos do túmulo
Recém aberto e ali seria o fim de tudo.
As lembranças voltavam silenciosas,
Enquanto eu passava ali e acolá
Entre as amareladas rosas
De pele outrora fina agora escamosas.
Eu espiava pelo canto dos olhos
Os nomes dos que ali sepultados
Guardavam em seus sussurros
Soltos na poeira, desencontrados.
Eu passava cada lembrança
E pensava no mistério da morte
O que existe além da esperança?
A realidade? a fuga? a vida?
Parecia meio entorpecida,
Pelos últimos momentos.
Ah! Se a alma pudesse
Ficar por instantes adormecida,
E eu repousar no sono
De um profundo esquecimento
Ah! Não fosse esse vento,
Como aquele do passado,
Eu teria a certeza
Que você ainda não tinha levado
Contigo parte de mim
Mas ali foi o inicio do fim
Nada sobrou, nada restou
Somente as lembranças murchas
Ficaram ao meu lado.
Até a essência perfumada
O vento levou.