A CRÔNICA DA DOR IMPIEDOSA
Eu me proponho esquecer tudo que avisto nessas elevadas e graves instâncias de meu descontrole.
Proponho porque não posso descrer nas leis naturais da felicidade, não posso supor o castigo insano que alveja o coração inocente e nem reconhecer a realidade do inimaginável e insuportável açoite da injustiça.
Na crise que despenca líquida e farta de meus olhos há o registro dos passos voltados para o êxito de tudo que agora parece ruir e permanecem imponentes as labaredas incendiárias, cujo momento atual afirma levianamente que já não passam de cinzas.
Cinzas, porém, não aquecem a longevidade e o heroísmo dessa emoção que se vendeu gratuitamente ao amor mais sublime já avistado debaixo do sol. Não podem originar os incêndios de paixão que legam esses olhares renovados a cada manhã: olhares que te vêem mais linda com o passar do tempo e me vêem mais teu do que eternamente já fui.
Cinzas não simbolizam as fontes nascidas em lábios que te confessam até por meio do silêncio. Lábios que não ousam negar-te, que não mentem ao destino e não iludem o sarcasmo das ingratas circunstâncias, sempre glorificando a maldade e sacrificando a pureza dos corações rendidos ao mais nobre dos sentimentos.
Cinzas, porém, talvez se apliquem ao resumo mortificado e invasor da natureza triunfante que fui.
Cada partícula sua suspensa pelos ventos do medo carregam o pesadelo premonitório do caos, as cenas antecipadas de uma dilaceração interior, acerca da qual, confesso, não sou capaz de obter recomposição e nem disponho de armas para tão inglório combate.
Diga-me destino, quem és tu que intervém nas rédeas da felicidade e converte-a em morto mar de prantos?
Com que autoridade vens tu, infelicidade, e em total desaviso soterras e entulhas meus poços de esperança?
Como podem as mais obscuras e sombrias conspirações do mal determinarem-se desse modo a se arregimentar contra mim, a dizimar meus frutos, a pilhar meus tesouros e a saquear meu saldo infindo de paz?
Donde procede essa afronta que estilhaça todo meu ser, doando o que é meu e roubando de mim o que plantei com sinceridade?
Que explicação me dará a noite para a ausência das estrelas e que me dirá o dia pela súbita e mortal fuga do sol?
Bem que eu queria obter todas essas respostas, mas juro que delas me esqueceria, se tão somente me fizesses compreender e assimilar um só motivo que te obrigue a me condenar à pior das mortes...que é viver sem ti!
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