Quando estava na barriga da minha mãe

Quando eu estava na barriga da minha mãe eu dizia:

“Mãe, não fica no sol,

Se não eu vou nascer pretinho e o mundo vai me castigar,

Pois o mundo é assim.

Ele vai me julgar pela minha cor”

Quando eu estava na barriga da minha mãe eu dizia:

“Mãe, trabalhe bastante,

Mesmo que seu trabalho não seja reconhecido,

Pois não quero sofrer de fome,

Assim como a senhora agora sofre”

Quando eu estava na barriga da minha mãe eu dizia:

“Mãe não corra muito,

Busque andar devagar, pois me carrega contigo,

Ninguém se importa comigo, senão a senhora,

E ninguém se importa contigo, senão eu”

Quando eu estava na barriga da minha mãe eu dizia:

“Mãe vale a pena lutar por mim,

Nem se quer existo por definitivo,

Em nada posso lhe ser útil,

Em nada lhe acrescento?”

Quando eu estava na barriga da minha mãe eu dizia:

“Mãe até que ponto a senhora vai agüentar essa vida?

Todos sumiram,

Até a sua criança que brincava comigo partiu,

Ainda não deu por falta dela?”

Quando eu estava na barriga da minha mãe eu dizia:

“Mãe se a senhora quiser, pode me tirar,

Juro que não a culparei por isso,

Sei que sou um peso,

Sei que te limito, poderia ir mais longe sem mim”

Quando eu estava na barriga da minha mãe eu ouvi:

“Meu Deus, essa minha vida é tão difícil,

Apanhei demais e nem sequer consegui o queria,

Mas o que me conforta e me incentiva a lutar é essa criança

Que carrego comigo,

Ela me impulsiona a continuar a luta, mesmo já acreditando estar perdida”

“Ah meus Deus, presente maior não poderia ter me dado!

Poderia estar agora morta, mas carrego comigo uma vida de reserva.

Ah meu Deu muito obrigado, muito obrigado”.

Quando eu estava na barriga da minha mãe

Eu já não dizia mais nada, me calei,

Pois sabia que ao cruel mundo eu apareceria, faria parte dele.

Quando apontei a esse mundo me assustei.

Claro, seco, branco, frio.

Queria voltar à barriga da minha mãe.

Lá era quente, confortável, agradável,

Mas já não podia, já era tarde,

Tinha que dar continuidade ao chamam de vida.

Quando estava na barriga da minha mãe eu ria sem motivos,

Agora faço por aparência

Pois dentro de mim, eu choro.

Por que apontei nesse mundo?

Dsoli