Eu não vi Deus
Estive pensando sobre as coisas da vida.
Estava vendo fotos e vídeos de pessoas (como nós).
Estava vendo dor e sofrimento.
Não gostei de nada do que vi.
Ouvi uma música triste que fazia transpassar o coração
com o grito que muitos querem dar e não podem.
Vi o céu azul e me perguntei se todos o vêem assim.
Vi as nuvens brancas
e por um instante desejei que fossem algodão doce
e que as crianças pudessem comê-las sem fim.
Enquanto o vento surrava meu rosto
pensava nas crianças que não poderiam (como eu) fechar a janela,
já que nem casas tinham.
Enquanto ouvia a música e via as fotos
percebi que não faço nada para mudar as coisas tristes do mundo.
Percebi que quando fico com medo ou triste
corro a procura de algo que escreva
e desabafo coisas (que às vezes) não fazem sentido algum.
Percebi que me escondo através de palavras escritas, e faço disso meu escudo.
Já possuo um castelo dessas folhas
e se você parar diante dele e ler os rabiscos no muro
saberá toda a minha vida.
Voltando as fotos vi rostos vazios,
vi olhares vazios de alegria;
preenchidos de fome,
de pedidos de socorro,
de choros contidos.
Vi mães cuidando de ossos revestidos de pele.
Vi sonhos sendo abortados antes mesmo de saberem da sua existência.
Eu vi a mão amiga.
Eu vi a fome ante meus olhos.
Eu vi desprezo, descaso, (talvez (o nosso)) fracasso.
Eu vi quem não tinha nada dar tudo.
Eu vi uma mulher chorando e preferi não imaginar o por que.
Eu vi a injustiça da vida.
Eu vi a injustiça dos homens.
Eu vi sangue, eu vi morte.
Eu vi minhas mãos molhadas de lágrimas.
Eu não vi comida.
Eu não vi sonhos.
Eu não vi graça.
Eu não vi futuro.
Eu não vi compaixão.
Eu não vi vida.
Eu não vi Deus.