Ocaso
Acaso, Sol, à tarde vertes sangue?
Acaso tens o infinito Universo
como leito para sustentar-te exangue
e aparar-te nessa labuta áurea?
Antes que a Morte te coma
e te seduza com voz de soprano
ilumine por último o mar que vos ama
para que seu reflexo engane o Profano!
E numa confusão louca e brilhante
o Cavaleiro virá a se afogar no oceano
e sua pupila febril verá num instante
a amplidão de teu amanhecer como se fora humano...
Mas se não é o Escuro teu pesadelo
porque então derretes ao findar o dia?
É provável que em teu fervor haja um apelo
ou anseio que tua luz não nos envia?
Se algo disforme vaga em teu peito
complexo demais para ser transmitido
continue, então, a derreter-se no horizonte e no meu leito
certo de que também iluminas outro exaurido!