Tenho a alma bolorenta
Jogada no recanto do corpo
Por vezes expressivo,
por vezes inerte e imoto
Tenho a alma bolorenta
E meus olhos expelem um flash amarelado
Com contornos queimados pelo tempo
Pela fogueira das vaidades
Pela estética retorcida dos interesses.
Esse bolor interno
Que me consome por inteiro,
Adentra-me pelos flancos,
Pelas narinas,
Pelos poros.
Contamina minha espada,
Minha palavra, minha lavra
De maneira que por vezes sou tão formal...
Que supero a própria forma
Disforme e contemporânea...
Fica tudo enquadrado num
Quadrante neandertal
Seguimos às cegas apenas tendências...
Perseguimos reticências dependuradas
No quadro da vida
Composto de olhares, expressões, gestos ou
Apenas insinuações
Não bastam...
Não bastam também os protestos...
A velha dignidade dos desvalidos,
Não basta a febre sã dos
Aflitos e inconformados...
Pois o tempo absoluto só conhece seu próprio ritmo...
A pedra, o cais, o céu e a montanha,
Seu rosto e seus olhos
Envelhecem todos os dias,
Inexoravelmente em todos dias
Verticalmente iguais
Em reverência inata à lei da gravidade.
E, no chão enterramos nossos mortos...
E, no chão enterramos vivas nossas
esperanças de poetas e loucos.