Chamada perdida
Ouço vozes esparsas na noite, como vadias estrelas silentes
Versos de poetas insones, sem rimas, barcos largados no rio
Tal qual faróis apagados, boêmios; navalhas cegas, sem fio
Espaços vazios, sem eco, geram precipícios letais, atraentes
São bodas de sangue nostálgicas; nossas núpcias indefinidas, adiadas
Teus lábios cheios de promessas tão doces, agruras desinventadas;
Meus olhos inundados de lágrimas, um mar de expectativas esvaziadas
Refletem medalhas reversas, sem missa, lápides de soturnas tumbas lacradas.
As cidades em festas insanas; e tu, donzela feliz, sobranceira
Um brilho no olhar, desvairado, teus passos marcados na areia
Hirto sorriso de plástico, a entoar canções de redivivas sereias
Restam-me papéis de sonhos na chuva, réstia luzindo na cumieira
Punhais cravados em meu peito, me castiga esta saudade revel, necrosada
Tuas chamadas sempre tardias, insossas, indultos de exéquias anunciadas
Um sombrio buquê de flores, Um naipe de clarinetas rasgando a madrugada
Apenas tédio é o que sinto: soma de eu sem você, uma equação mal elaborada.
Nenhuma palavra pode ser consoladora quando nos sentimos sós, irremediavelmente sozinhos. Apenas a presença do Ser que amamos é capaz de suprir o nosso imenso Vazio.
O resto tem apenas o mesmo valor do silêncio.
Vale do Paraíba, noite da penúltima Quarta-Feira de Dezembro de 2009
João Bosco