Me pego ao espelho e me analiso
Mergulhar em cada olhar
E renascer no coração de cada pessoa,
Que hoje considero importantes.
Rever conceitos,
Abraçar certezas,
Falar em clareza,
Dizer tudo o que agora não consigo dizer.
Me pego ao espelho e me analiso.
Sigo os traços que com o tempo vão se intensificar.
Marcarão meu rosto ainda marcado pela juventude.
Indicarão minhas incertezas, preocupações e medos.
O meu corpo franzino, mas forte,
Já não será como agora.
Carregarei o peso chamado solidão.
Cairei e sozinho não conseguirei me levantar.
Quem me ajudará?
Serão os amigos que abandonarei?
Será a família que renegarei?
Ou quem sabe os meus sonhos?
Então reclamarei com direito?
Ou serei mais um questionador
Que questiona, mesmo não sabendo porquê?
Quais serão as minhas lembranças?
Serão os momentos que agora eternizo?
Serei eu mesmo o meu próprio lembrador
Ou nem mesmo eu vou me lembrar?
Não conseguirei andar.
Minhas pernas me falharão
E uma cama, num quarto escuro e isolado será meu leito,
Meu canto de descanso.
Meus feitos não serão conhecidos,
Nem ao menos os tive e sei que não os terei nessa vida que me resta.
Certezas?
Não reconheço seu significado.
Serão mais algumas páginas em branco, na coleção que já faço.
Nas mãos, os calos da minha infância.
Nos pés uma aclamação, pois me sustentaram
E me sustentarão por todo o resto da minha vida.
Meu destino será um cubículo
E eu, que sofro de claustrofobia, não reclamarei.
Minha boca será calada, não poderei calar, logo não serei ouvido.
Esse espelho, em que me percebo, sumirá
E ninguém sentirá sua falta.
Passei por despercebido nessa vida,
Não tive uma grande importância,
Acresci nada mais que nada a todos os que cercavam.
Os olhos que me expõe,
Esconderão algumas verdades
E não serão tão importantes quanto hoje.
Eles também serão comidos assim como o meu corpo.
Eles não verão o mundo em detalhes
E não vão procurar perfeição onde não existe.
Julgarão, condenarão, matarão.
O céu, o sol, a lua...
Não habitarão o mesmo espaço.
Seus defeitos serão apontados por estes olhos
Que até a si mesmos apontam.
Já não terei essa admiração
Farei me egoísta, inútil, carrasco.
Então terei a vida por completa:
Nasci, cresci, fui um idiota!
Serei atraído pela mulher que nomeiam morte.
Uns não a conhecem e quando a conhecem se arrependem.
Outros não a admiram, pois a tem como monstro,
Como ladra e também infame.
Eu a admiro.
É sedutora, mágica, é o futuro.
Terei a vida como acabada
E se para alguém fui importante, sentirão saudades,
Caso contrário, serei só mais um que ocupou um lugar
Que nem sequer lhe pertencia.
Dou-lhes então o direito de cuspir em meu túmulo
E se ainda não lhes for suficiente
Pisem em meu caixão antes de ser guardado.
Caminharei entre vivos,
Conhecerei suas verdades caras,
Mas isso de nada me servirá,
Absolutamente nada!
Quero partir sozinho.
Não quero compartilhar esse momento com ninguém.
Não quero que sofram por mim,
Pois se fosse o contrário eu não sofreria.
Enfim repousarei,
Esquecerei de tudo, de todos,
Em especial de mim
Dsoli