Rei `prova d'água
O reino está se desfazendo
A mercê da chuva raivosa
As casa humildes, vão desaparecendo
Com uma rapidez muda e espantosa
A antiga serralheria, ruiu
E com ela uma família
O senhor serralheiro fugiu
Mas perdeu sua mulher e sua filha
O velho ferreiro desapareceu
Junto com espadas e ferraduras
Sua casa foi soterrada
Pela enorme fúria das alturas
A moça bonita
Que caminhava desatenta
Agora, está aos prantos, aflita
Condenando a crueldade da tormenta
As flores que perfumavam o dia
Perderam a beleza e a magia
Estão sob troncos e lama
Num misto de entulho e nostalgia
Até as crianças tão inocentes
Sofreram um choque de realidade
Elas cavam em busca de parentes
encobertos de calamidade
Mas nem tudo é tristeza
Nesse reino destruído
Pois há o rei, que com destreza
Sorri desapercebido
O jantar posto na mesa
E seus filhos já dormindo
O seu vinho está perfeito
Sua coroa reluzindo
Nem a tal da fúria celeste
Tira o seu bom humor
Pra ele a chuva foi boa
Por dar trégua no calor
A tragédia está consumada
E o rei alienado a ela
Ele ouve a tempestade
Mas não olha da janela
Pois ele sabe que se não ver
O coração não sentirá
E não vendo o sofrimento dessa gente
Sua saúde perfeita continuará