Desterro de ti
O que é ter para sempre "a" verdade?
O que tens a ganhar sendo assim?
Ser "perfeita", e em conformidade
com essa história que contas prá mim?
Não seria melhor se vivesses
Os teus erros que negas, enfim?
E porquanto que tu os cometesses
Te sentisses tu mesma até o fim?
Por que insistes nos tantos modelos
que maltratam, prá estar sempre "certa"?
Não seria mais fácil não tê-los
se, imperfeita, estarás mais liberta?
Por que investes tamanho, em mantê-los,
Se a alegria real só te tiram?
Pois que escondes vontades e apelos
Prá que as cascas que inventas te firam?
De que serve esse altar em que habitas,
Se feliz não te faz, nem te ensina?
Se por dentro - tu o sabes - tu gritas,
Pois que até o teu prazer te confina?
Antes fosse a verdade algo interno,
Em vez dessa que insistes mostrar...
De perfeito, só resta-te o inferno
De estar longe de ti - prá não errar!
Só que enquanto convences amigos
E os amores sufocas, nos zelos,
Tens buscado o pior dos perigos
Que é morrer sem viver... e perdê-los.
E de tudo, foi mais onde erraste:
Te negares ter mácula ou erro!
Só que a vida e o teu tempo trocaste
Por ficar, de ti mesma, em desterro.
Obras publicadas: www.lojasingular.com.br