cinzas poéticas
As cinzas poéticas de seu corpo
Espalhadas no ar
Impregnavam de lirismo esse oxigênio bastardo
Que insiste deixar a miséria prosperar
Seu ceticismo arguto e cruel
Nos fazia ver através da própria cegueira
Na cegueira alva e refém de alguma razão
para duvidar
As cinzas poéticas de seu corpo
Revelam a iniqüidade da existência humana
Transmutavam delírios estéticos em
ínfimas parcelas do ser
Disperso pela força do fogo,
Pela força das moléculas divorciadas da vida
Herdamos a eternidade
da tua palavra,
Da descrição insólita e contrita
De alma, passagens e descaminhos.
Adeus, Saramago.
Viverás eternamente nos livros,
Em cada palavra onde delicadamente esculpiu
sua alma e, essa meu caro,
Será imortal como fogo
Que reduz em cinzas
Apenas o palpável,
Mas jamais a força do poeta.
Jamais a mágica da leitura.