O anoitecer de um sonho

Houve um tempo em que nada impedia meus sonhos.

A dor era superada pela esperança no futuro.

A tristeza era superada pela fé no amanhã.

E o sofrimento era vencido pela fantasia de uma vida melhor.

Mas, os fantasmas vem a noite e nos mostram o quão pequenos somos.

E um dia percebemos que nada somos aos olhos de nossos irmãos.

Eu ainda me lembro do dia que sonhei um sonho lindo.

Mesmo em meio a miséria e a tanta carência, o sonho permanecia, guardado em algum lugar de minha alma.

Eu olhava para a escuridão e podia ver bem escondida o pequeno sinal de uma luz.

Mas, o tempo foi passando e minhas ilusões foram se perdendo, junto com meus sonhos que acabaram por morrer.

E você talvez não saiba o quanto dói a morte de um sonho.

Você não sabe o que é viver sob o peso da injustiça.

Eu chorei lágrimas de sangue.

E minha alegria, o vento levou e tudo o que eu era, pouco ou nada sobrou.

Hoje vivo como uma criatura que se arrasta sobre o peso da própria dor.

Hoje eu sou um moribundo tentando encontrar uma luz, uma esperança qualquer que me permita sobreviver ao massacre de cada dia.

Hoje eu sou poeira de estrelas caídas do céu.

Eu sou poeira de qualquer pocilga.

Meus sonhos de tão puros e belos foram rendidos por selvagens.

E do que muito sonhei, quase nada sobrou.

Talvez tenha sobrado um rascunho.

Um rascunho de uma esperança tão esperada.

Rascunho de uma ilusão tão procurada e de um sonho tão sonhado.

Eu sonhei um sonho numa época em que a miséria era tudo que eu conhecia.

Mas, ainda havia a esperança de um sonho.

Hoje vejo os poucos sonhos que ainda tenho murcharem como rosas mal cuidadas.

A gente cultiva um sonho com carinho, vive por ele com loucura, aí vem o mundo e te leva tudo.

E hoje eu vivo como alguém que se arrasta sob o peso da própria dor.

Meus sonhos de tão puros e belos foram rendidos por selvagens.

E do que muito sonhei, pouco ou nada sobrou.

Talvez tenha sobrado um rascunho: um rascunho daquele sonho que ao morrer no anoitecer, me deixou apenas o sabor de uma triste dor.

E hoje o sol já não brilha e eu me sinto como um pedaço de carne jogado no chiqueiro para ser devorado pelos porcos.

Mas, a carne que sangra, ainda sobrevive; marcada, rasgada e retalhada.

E assim, vou sobrevivendo, carregando nas costas o peso de minha própria dor.

Marcos Welber
Enviado por Marcos Welber em 15/06/2010
Código do texto: T2320645
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