Escutando a voz de uma serpente
Era criatura mais do que comum,
Uma luz apagada,
Uma sombra sem rosto,
Que se arrastava em silêncio.
Alguém que não esperava nada,
Porque fora sempre uma escrava.
Cabelos ásperos, parecendo de palha;
Pele grossa, feito uma lixa;
Fragrância de fumaça;
Olhar opaco, dolorido;
Presenciara tantas cenas!
Dentes enegrecidos.
Deixava a cama logo após parir,
Voltando correndo para o campo.
Nunca se escondeu na fadiga,
Não sabia o que era o encanto.
Trabalhando até o anoitecer
Suja de terra, ficando..
Seu rosto não revelava nada.
Sabia se esconder sob pressão;
Aprendera desde pequenina
Pra sobreviver aos leões.
Trabalhava toda sua vida,
Sem nenhuma remuneração.
Nunca erguera a voz,
Vivia amedrontada;
Temia desagradar,
Pois sempre fora escrava.
Mesmo quando já era livre
Não agia como se esperava.
Após tantas amamentações,
Seus seios perderam a beleza.
Moles e pendentes,
Já não eram atraentes.
Mas foi com seu suor
Que houve mais sementes.
Na casa não faltava alimento,
No campo havia semeadura;
A casa sempre estava limpa,
Todos agasalhados,
Sobrava prata,
Estavam descansados.
Mas um dia seu esposo,
Decidiu perambular sem razão.
Entrando numa Casa de Chá,
Passou a desejar um botão.
Viu figuras só vistas em sonhos;
Deixou de lado a precaução.
Entre tantas por escolher,
Optou por uma lótus, em botão.
Não sabendo que a lótus,
Não queria seu coração.
Tudo valia um preço;
Teria que encher uma mão.
Ali era o lugar certo!
Disse-lhe uma voz sussurrante.
- Para gastar um dinheirinho,
Descansando um instante.
E o lavrador não se dava conta
Que estava numa escada rolante.
Sua esposa calada,
Tudo percebendo, sofria.
Olhava-o dolorosamente,
Enquanto para a nova flor,
Levando ricos presentes,
Ele partia...