Morada interior

Fica um rosto no espaço,

No ósculo do tempo,

No dia sem memória,

Na hora que a lembrança esquece,

Onde a saudade para.

Dorme pra não morrer.

Fica um corpo sem dono,

Estátua de mármore,

Sem objeções nem sentido.

Ficam as lacunas,

Marcas da terra arada,

Cheiro de poeira molhada.

Ficam linhas nas faces,

Tinta branca nos cabelos

E apenas uma canção na boca,

O beijo forjado do abraço sem abraço.

Fica como fica a vida,

Dorme se a noite chega,

Clareia quando se faz clara

Na medida correta do tempo

Que faz a vida...

Existir sob a canga das mágoas.