MORTALHA

“Qual é o destino do homem senão suportar a parte de sofrimento que lhe toca, tragar seu fel até a ultima gota? E, se o cálice pareceu demasiadamente amargo aos lábios humanos do Deus celestial, por que me farei eu mais forte do que na realidade sou, fingindo achá-lo doce? E por que envergonhar-me no terrível momento em que todo o meu ser estremece entre a vida e o nada; e o passado, como um clarão, ilumina os tenebrosos abismos do futuro, e tudo em torno de mim se despedaça, e o mundo inteiro soçobra comigo? É então que a criatura, no ultimo grau do desespero, reduzida às próprias forças e sentindo-as impotentes, vendo-se tombar e não podendo deter-se na queda, grita, com uma voz dilacerante vinda do mais profundo do seu ser, que se esgota em vãos esforços para reerguer-se: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” Poderei envergonhar-me destas palavras e recuar de medo ante o momento do qual não escapou aquele que se envolve nos céus como num manto?”

- Os Sofrimentos do Jovem Werther –

- Goethe -

MORTALHA

A morte. Ei-la aqui ao derredor,

Nos limites de minha terra,

Ansiando o abrir da cancela,

Armada de foice, a me esperar.

Túnica negra, seu traje de gala,

A cor assinala suas intenções.

Ente temido, socorre os aflitos,

Edifica conflitos, fabrica ilusões.

Agora ou depois, futuro seguro

De todo vivente feito de átomos.

Traz consigo o obscuro, obstáculo

A minha rápida e sincera resolução.

Por via das dúvidas, inda me torturo

Vivendo num mundo sem salvação.

>>KCOS<<

“Ó Pai, que eu não conheço, Pai que outrora fazíeis transbordar toda a minha alma e agora me voltais o rosto, chamai-me para junto de vós, não mais vos mostreis mudo aos meus apelos, porque o vosso silêncio não poderá conter esta alma que tem sede de vós! Um homem, um pai, não pode irritar-se porque seu filho, reaparecendo subitamente, atira-se ao seu pescoço exclamando: "Eis-me de retorno, meu pai! Não fique zangado por eu abreviar uma viagem que, por sua vontade, devia durar mais algum tempo! O mundo é o mesmo em toda parte: sofrimento e trabalho, depois recompensa e prazer; mas, que me importa isso? Só sou feliz quando o Senhor também é, e é junto do Senhor que eu quero sofrer e alegrar-me..." E vós, bom Pai celestial, repudiareis esse filho?”

- Os Sofrimentos do Jovem Werther –

- Goethe –

Karlla Caroline
Enviado por Karlla Caroline em 10/06/2010
Reeditado em 26/06/2010
Código do texto: T2310842
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