ASAS QUEBRADAS
ASAS QUEBRADAS
Ó nau, que singras sem norte,
tu, ave ferida,
buscas linimento na dor
que te causa a asa quebrada.
Ó órgão ilusionista e iludido,
te chamas coração,
fizeste-te cúmplice dos sonhos;
alma minha materializada
qual nauta em mares bravios encapelados,
sem bússola e sem mastro,
caídas na proa as velas
navegas em águas de tristeza.
e nada mais vês
senão o ocre do abandono;
nada visualizas
senão o escuro céu tormentoso
e as nuvens negras da descrença
feriste as asas dos sonhos
e jazes no piso do teu barco
com os olhos marejados no horizonte
onde buscas a luz de algum fanal,
como busca a caravana
um oásis em pleno deserto
e só encontras visagens.
baixaste aos porões e o que encontraste?
as garrafas vazias do teu tormento
evacuando fel no travesseiro ao lado.
e, ao longe, levada por ondas e ventos
no oceano encapelado
tua luz se afasta... se afasta cada vez mais.
e tu definhas, ave ferida,
não pensam teus ferimentos.
ó ave louca,
que de sonhos te afastaram!
que de asas se quebraram!
do sonho de ser feliz!