ASAS QUEBRADAS

ASAS QUEBRADAS

Ó nau, que singras sem norte,

tu, ave ferida,

buscas linimento na dor

que te causa a asa quebrada.

Ó órgão ilusionista e iludido,

te chamas coração,

fizeste-te cúmplice dos sonhos;

alma minha materializada

qual nauta em mares bravios encapelados,

sem bússola e sem mastro,

caídas na proa as velas

navegas em águas de tristeza.

e nada mais vês

senão o ocre do abandono;

nada visualizas

senão o escuro céu tormentoso

e as nuvens negras da descrença

feriste as asas dos sonhos

e jazes no piso do teu barco

com os olhos marejados no horizonte

onde buscas a luz de algum fanal,

como busca a caravana

um oásis em pleno deserto

e só encontras visagens.

baixaste aos porões e o que encontraste?

as garrafas vazias do teu tormento

evacuando fel no travesseiro ao lado.

e, ao longe, levada por ondas e ventos

no oceano encapelado

tua luz se afasta... se afasta cada vez mais.

e tu definhas, ave ferida,

não pensam teus ferimentos.

ó ave louca,

que de sonhos te afastaram!

que de asas se quebraram!

do sonho de ser feliz!

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 08/06/2010
Reeditado em 10/06/2010
Código do texto: T2307013
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