Bem-medir-cansaço

Não escondo os passos

que deixei à sua procura

na quietude das calçadas.

Meço-me com a fita

de bem-medir-cansaço,

esboço abraço que será,

beijo que deverá existir.

Suporto-me

conjugando ausências,

falésias, falências.

A quem possa interessar

ainda tenho mãos de agarrar

os tantos sonhos adiados.

Debruçado, o coração segue

no parapeito das janelas,

dado a espiar essas muitas

coisas de desencontro.

Derrama, escorre

sem a forma que quer.

Vai e bate num poste,

esbarra em alguém,

xinga e chora.

Demora a ter preenchido

um espaço que lhe seja bom.

Demora o tom tranquilo

como aquilo de um azul.

Sigo. Acompanho-me,

povoando a noite.

Tão breve pudesse

tocaria suas mãos

não fosse o futuro

que ainda nos separa.

Minha cara está aqui

e não adiante.

Tentei por um instante

desbastar-me de mim

em um confim qualquer

madrugada afora.

Não demora vem o sol

escancarar a luz,

e a visão se reduz

ainda mais.

Sobra nos olhos

sua face que ainda não sei.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 06/06/2010
Reeditado em 06/06/2010
Código do texto: T2303649
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