Bem-medir-cansaço
Não escondo os passos
que deixei à sua procura
na quietude das calçadas.
Meço-me com a fita
de bem-medir-cansaço,
esboço abraço que será,
beijo que deverá existir.
Suporto-me
conjugando ausências,
falésias, falências.
A quem possa interessar
ainda tenho mãos de agarrar
os tantos sonhos adiados.
Debruçado, o coração segue
no parapeito das janelas,
dado a espiar essas muitas
coisas de desencontro.
Derrama, escorre
sem a forma que quer.
Vai e bate num poste,
esbarra em alguém,
xinga e chora.
Demora a ter preenchido
um espaço que lhe seja bom.
Demora o tom tranquilo
como aquilo de um azul.
Sigo. Acompanho-me,
povoando a noite.
Tão breve pudesse
tocaria suas mãos
não fosse o futuro
que ainda nos separa.
Minha cara está aqui
e não adiante.
Tentei por um instante
desbastar-me de mim
em um confim qualquer
madrugada afora.
Não demora vem o sol
escancarar a luz,
e a visão se reduz
ainda mais.
Sobra nos olhos
sua face que ainda não sei.