Vestido de festa
Tens na boca o mesmo amargo,
O sabor do desgosto que tenho.
Tens pelo tempo ido,
Desfeito de sonho perdido,
Nas andanças ilusórias,
Paisagens prosaicas
Festejadas nas linhas das páginas.
Nada mais tivestes além de versos,
Apenas da medalha o reverso.
Enquanto amargo as fraudes,
As escusas ambições de ser gente,
De possuir algo mais que um simples,
Mas misterioso amanhã,
Levado por tuas mãos e palavras,
Quis, apenas sonhei,
Fomos tolhidos, presos,
Contorcidos, despejamos nossas mágoas,
Inundamos o reverso,
Enquanto a chuva fria,
Paulatinamente caía
Espelhava nas ruas a desdita,
Fiz páginas escritas,
Que as fizestes lidas.
Fiz delineadas e promíscuas
Tudo quanto vegetou no afastamento,
Fizestes teu o rumo seguido.
Fomos, perambulamos,
A vida te sorriu, sorristes,
Lacrimejei, a vida chorou,
A mesma chuva fria,
Que um dia nos abrigou,
Molhando nossas vestes
Fazendo prateada a indumentária,
A roupagem daquele grande amor,
Que por ser sempre dia de festa,
Mesmo amargando é traje a rigor.