O Fantasma [pt 1]
Na idade ‘stranha da desilusão
Imberbe – por tão somente Tristeza
Latente! – qu’em jovial coração,
Num terror titânico, mantém presa
[E descompactada] toda aflição
Que por tanto agourenta empresa,
Insistente e mui mortiferamente
Desventurada alma tem malcontente:
Que d’alma tem subjugada a fraqueza.
Pois, que ‘té mesmo a inconsciência
[Aquela noturnamente humana
Que devaneia pela sã dormência
Aos sonhos de ilusão soberana!]
Do corpo perde sua proficiência:
Que vácua alma lhe não faz ufana;
Que tamanho fingimento, e poderoso,
Obter não pode: que o calamitoso
Descontentamento mais forte emana!
Tanto sofre quem de mal tal padece,
Que por demasiado nunca suporta;
Que por dez dias um mil envelhece
À cata da coisa que lhe conforta;
E, inda debalde isso lhe parece,
Noite após noite, bate à mesma porta
Da infausta e funérea melancolia,
Como se por tanto vil, vã porfia,
Ver-se-ia livre da vida já morta.
Não! Liberdade nem metamorfose
O mancebo mais desafortunado
Alcançar pode, nem vil overdose!...
Não lhe’scorre o sangue derramado
Qual lhe’scorre à garganta a tinta dose,
Conquanto nem ‘stá todo embriagado:
Visto que seu gosto e anseio alcoólico
Divide co desgosto melancólico
Um espaço no peito flagelado.
Flagelado ao vácuo do esquecimento...
Ai! À mercê do falecimento interno
Que em tanto vil e acidental momento
Abraçara-o, como se sempiterno.
Pois, do terrível mundo o grão tormento
[Tanto páreo ao convicto inferno!]
Ao mancebo rev’lou quanta maldade
Tinha, e desproveu-o de mobilidade!
[Que lhe cedia gozo ao mundo [ex]terno!]
Mas este imberbe, este mancebo inerte
Que ledo sentimento nunca apraz,
Pois a vilã hipocondria inverte
O mísero bem a um mal atroz, mordaz,
[Sem que Celeste Poder o conserte!];
Este pobre infortunado rapaz
Teme, sim!, a temível solidão,
Conquanto seu heroico coração
Demonstre fingimento tão tenaz!
Misérrimo coração de sem conta
Dores e terrores usurpadores
Que toda [outrora leda] fé confronta!
Não lhe vê Fortuna os amplos valores
Que à pena tem, pois sempre lhos desmonta
E rasga ao pressenti-los por melhores.
Destarte, o que há que lho conforte?
Uma vez que não vida, quiçá Morte?
Porquanto lhe falharam os torpores!?