Poeta da Dor
Poeta da Dor
Eu nasci de poeiras de estrelas.
E na Terra comi poeira desde que nela cheguei.
Eu nasci no chão sujo e obscuro da mais pura miséria.
Eu me perdi de laços.
Quase não tive mãe, e pai nem o nome aprendi a falar.
Eu nasci mergulhado nas trevas e no terror da falta de tudo.
Não havia amor, não havia alegria, só havia sofrimento e agonia.
Aprendi desde cedo o amargo sabor da dor.
Pois que de tudo e de todos a dor foi a única que realmente esteve ao meu lado.
Eu aprendi a sobreviver de tristeza.
Eu aprendi a morrer a cada dia, para poder renascer mais forte.
Eu aprendi a fechar os olhos para a agonia, pois que só a calma e a paz pode tranquilizar um coração agoniado e desesperado.
Eu mergulhei no inferno, porque não me foi dada nenhuma outra opção.
Mas, apesar de tudo, eu nunca deixei de buscar a luz; mesmo quando estava na mais fria das escuridões.
Pois que a dor ingrata, de companheira passou a inimiga, ao me trazer junto dela, uma coisa chamada solidão.
Nossa! Como essa coisa machuca.
Mas, eu nunca me conformei em me deixar perder nas garras do sofrimento.
Eu me culpava dia e noite.
Me culpava por não conseguir apreciar a vida, pois que o mundo parecia me dizer: não é o seu papel viver, a você só cabe assistir aos outros viverem.
Pois que nunca entendi tanto inconformismo e tanta insatisfação de minha parte.
Hoje eu sei que o tudo e o nada se misturam, e que não existe padrão para definir o que é viver a vida ou simplesmente vê-la passar.
Pois que minha vida não passa de dor.
Dor que o tempo transformou em poesia.
Minhas misérias se transformaram em palavras.
Palavras feitas, para tentar do sofrimento escapar.
Palavras feitas, para outros corações encantar.
Minha dor é minha própria vida.
Ah, minha vida é uma simples poesia.
Poesia nascida do pó, não sei se do pó das estrelas ou simplesmente do pó da terra suja.
Só sei que minha poesia é tudo que essencialmente eu tenho como meu.
Se morresse amanhã nada mais deixaria, talvez nem muitas lembranças.
Mas, com certeza minha poesia ficaria, perdida no vento e no tempo; esperando um dia ser encontrada, descoberta, conhecida e experimentada.
Pois que minha vida é simplesmente poesia.
E eu?
Eu sou um poeta.
Um poeta da eterna dor.