Ensejo
Estou entre o pó e a poeira,
Neste vazio, tentando descobrir,
Aceitar as nulidades,
A tensão distorcida.
Há no ar uma espécie de convite,
Uma fórmula amena,
Que acalma, conclama a participação,
Uma festa hipócrita de alegria.
Se preciso for sorrir, sorrio,
Sem perceber as causas.
Quero sim entender o ocaso,
O final de tudo, o crepuscular ensejo,
Despindo-me de tudo quanto aflige.
Quero poder participar das fronteiras,
Ver línguas nunca vistas,
Para subir sem palavras e não entender,
Ficar estático enquanto a hora voa.
Quero ter desaponto em rostos,
Faces que amigas foram,
Quando descobrirem suas falsas,
Tímidas razões de vida.
Quero a perplexidade da morte,
Lançando aos meus pés,
Levando vencida uma batalha,
Uma luta sem glórias.
Mas, ainda permaneço entre o pó e a poeira,
Neste vácuo que não tem nome,
Apenas um imenso vazio.