DECLARAÇÃO DE AMOR

Meus olhos de concupiscência

ferem tua pureza

maculam tua leveza

de fina flor de estufa

de rara borboleta

banhada em cores e luz

e sempre tão suave

como um beijo matinal

sorriso que me acabo

ao léu do teu descaso

lembrança de tortura

elegia de amargura

não vou passar além

na nuvem pura de algodão

um lírio ensangüentado

pingando lava violeta

desmancha-se no crepúsculo

no céu dos meus amores

taça sinuosa de horrores

de fel e dissabores

manhã de primavera

sem flor, sem aquarela

tuas cinzas esfarelas

nos céus do meu olhar

os gravetos molhados na campina

não espantam as sabiás

como o teu desejo de tê-los

e os meus desejos

não quere-los

apesar dos meus apelos

carinhos & desvelos

terça feira

já é fim da tarde nublada

a lembrança da praia vazia

o vento penteando

pequenas moitas valentes

na areia alva e macia

o farol quieto e soturno

como um gigante leve

irmão dos pássaros e das vagas

cativa os silêncios da alma

que o diga Virginia Woolf

a saudade se materializa

no olhar mudo e distante

do albatroz que descansa

no restos de uma canoa velha

perdido na garoa forte

dentro de um caldeirão cinza, frio

um sábado que não acaba

já sei que você não vem

a dor pode ir mais além?

delicia é atravessar a nado

as nuvens de seda

da tua coleante maré

mas a luz dos teus olhos

morria pra mim

afogo-me e salvo-me

no teu mar de desprezo

dor surda e agônica

com que me atiras

quais restos de madeira

que a praia rejeita

num manto de espuma

em novo amanhecer

Visitem-me :}

poesiasegirassois.blogspot.com

by

Davi Cartes Alves
Enviado por Davi Cartes Alves em 08/05/2010
Reeditado em 27/06/2010
Código do texto: T2245046
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.